domingo, julho 27, 2008

aldeia

Era criança e sentava-me no muro de pedras de granito empilhadas e encaixadas sem qualquer argamassa. Os pés nus pendurados, as uvas doces ao alcance de uma mão, a sombra e o cheiro doce da videira sobre a minha cabeça. Tirava os sapatos mal chegava à aldeia para me juntar às outras crianças. Doía-me, claro. Mas era uma liberdade preciosa. Como a de correr pelos campos de milho, a terra mole afundando-se sob a planta do pé, as folhas cortando-me o pescoço. E corria de novo e havia de correr novamente depois de descansar junto à terra com o céu recortado pelas barbas do milho. Havia de correr sempre enquanto o milho fosse a minha floresta do verão.

quinta-feira, julho 17, 2008

Saímos das minas e subimos ao guindaste. Não voltaremos a ouvir a d. Amélia dizer que o Rui Costa é um senhor. Agora trabalhamos aqui no alto junto ao rio. A visão dele entontece, há dias em que chegamos a supor que desagua para os dois lados. Outros em que imaginamos recifes na outra margem ou Moby Dick saltando junto à proa de um cargueiro. Está calor no alto do guindaste, coloco as mãos sobre os olhos prescruto o azul depois da água para ver se aí vens. Se ainda vens. O que haverá quando vieres.

domingo, julho 06, 2008

O ano da Nêspera

Vieram mais nêsperas, de fora da cidade, mais gordas e sumarentas. Descobrimos também que aqui atrás ficava o Jardim da Nêspera onde hoje palmeiras altas recolhem os pássaros no fim do dia. Queríamos que o verão estacasse nalgum lugar enquanto não chegamos e depois nos desse o braço rumo a qualquer horizonte azul.